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Maio também é o mês das mães-golfinho em Fernando de Noronha. E é isto que comprovam os grupos de golfinhos-rotadores observados esta semana pelos pesquisadores do Projeto Golfinho Rotador, que tem o patrocínio da Petrobras.

Nesta semana que antecedeu o Dia das Mães (14 de maio), o número de mães com filhotes recém-nascido de golfinhos-rotadores em Fernando de Noronha está muito acima da média do ano. E estas mães estão tendo trabalho com seus filhos, que não param de sair correndo e saltando pelas águas do Arquipélago.

Esta maior concentração de mães-golfinho em maio não é por acaso. Deve-se ao fato de que um dos picos de nascimento de golfinhos em Noronha é nos meses de março, abril e maio. E, logo que os filhotes nascem, as mães veem mais frequentemente para o Mar de Dentro de Noronha, para aproveitar as suas águas calmas para os primeiros cuidados de seus filhotes, como amamentação. Sendo que, à tarde, as mães e os filhotes acompanham o grupo todo de golfinhos-rotadores para as áreas de alimentação. Deixando sem golfinho as três áreas de concentração de rotadores em Noronha, a Baia dos Golfinhos, a Baia Santo Antônio e a Enseada Entre Ilhas.

As pesquisas do Projeto Golfinho Rotador relatam que as mães-golfinho possuem admiráveis características maternas: são protetoras, carinhosas e atenciosas. Na amamentação, por exemplo, os filhotes se posicionam ao lado da mãe e esfregam ou dão pequenas batidas com a ponta do rostro na fenda mamária da fêmea, por onde o leite é expelido. Um ponto interessante da estrutura familiar dos rotadores é que, devido à estratégia sexual da espécie, a figura paterna não existe.

A espécie também apresenta uma forte relação entre mãe e filho, indicando um elevado investimento energético da fêmea no cuidado com a prole, possivelmente para compensar a baixa taxa de natalidade, que é de apenas um filhote a cada 3 anos. Como o golfinho-rotador atinge a maturidade sexual entre os 7 e 9 anos, vivem até, no máximo, cerca de 30 anos e passam 10,5 meses grávidas, uma fêmea pode ter até 4 filhotes em toda a vida, já que só conseguem procriar até por volta dos 20 anos.

Durante observações realizadas em mergulhos, os pesquisadores do Projeto Golfinho Rotador perceberam que as fêmeas sempre nadam próximas aos filhotes e, na maioria das vezes, entre suas crias e o pesquisador, numa posição evidente de proteção. “Quanto ao posicionamento dos filhotes e dos recém-nascidos em relação à mãe, a preferência era por posições que ofereciam maior proteção ao filhote, ficando ao lado, atrás ou abaixo da fêmea”, explica o oceanógrafo José Martins, pesquisador fundador do Projeto Golfinho Rotador.

Vem cá, meu filho

Outro ponto curioso é que, nos casos em que o filhote demonstra curiosidade pelo pesquisador e se aproximava dele, a mãe afastava o pequeno, empurrando-o suavemente ou emitindo uma vocalização muito alta e específica. Os cientistas do Projeto Golfinho Rotador batizaram esse chamado de “vem cá, meu filho”. As mães-golfinho também emitem sons aos filhotes em outras situações, como quando eles parecem estar assustados e quando estão voltando das brincadeiras muito comuns entre os mais jovens. Além disso, as fêmeas usam as nadadeiras para dar leves toques nos filhotes e, assim, afastá-los de eventuais riscos e predadores.

O mesmo comportamento protetor das mães-golfinho é visto durante a amamentação, que dura de um a dois anos e tem sido frequentemente observada em Noronha esta semana que antecede o dia das Mães. Na amamentação, o filhote se posiciona de lado e esfrega o seu focinho na fenda mamária da mãe, de onde é expelido um leite altamente gorduroso. O filhote mama intermitentemente, durante aproximadamente 20 segundos em uma fenda mamária, descansa 60 segundos e mama mais 20 segundos em outra fenda, volta a descansar e, depois volta a mamar. No início das manhãs, a frequência de amamentação é maior. Os filhotes podem tomar o leite de três maneiras diferentes: em algumas ocasiões, o filhote succiona o leite direto da fenda mamária, quando é possível perceber que ele mamava apenas pelo movimento da glote; em outras oportunidades, o leite sai da fenda para a boca do filhote, como se esse succionasse o leite através de um canudo transparente; e em raras ocasiões, o filhote ingere na coluna da água goles isolados do leite expelido.

A amamentação é um o momento mais difícil de ser observado e registrado pelos pesquisadores do Projeto Golfinho Rotador, devido à interrupção desse ato ou à fuga da mãe e do filhote diante da aproximação dos cientistas. O curioso é que, nos casos de fêmeas que já haviam estado várias vezes com o mesmo pesquisador em outros mergulhos, a aproximação durante a amamentação foi aceita. Essa dificuldade em se aproximar das mães quando estão amamentando evidencia que esse é o comportamento mais íntimo observado entre os rotadores em Fernando de Noronha. “E prova a necessidade de haver áreas exclusivas para esses animais, longe da presença humana”, ressalta Flávio Lima, outro pesquisador fundador do Projeto Golfinho Rotador.

Uma sociedade matriarcal

O empoderamento legitimamente buscado e cada vez mais merecidamente alcançado pelas mulheres, é praxe para os golfinhos-rotadores.

Em função de sua estratégia reprodutiva, os golfinhos-rotadores tem uma estrutura social muito fluida, na qual inexiste a figura paterna e os laços familiares são derivações da relação mãe-filha(o) e irmã(o)-irmã(o). Segundo esses laços, os golfinhos agrupam-se em unidades familiares nas quais se associam os machos adultos, que flutuam entre as diferentes células familiares.

Estas células familiares, a menor estrutura social dos golfinhos-rotadores, é liderada por uma fêmea mais velha, a matriarca. Várias “células familiares” se agrupam para formar um “grupo”, que pode conter várias gerações da mesma família. Machos adultos flutuam entre as células familiares.

Entre os golfinhos-rotadores de Fernando de Noronha, existem golfinhos “residentes”, que possuem uma área de ocorrência menor, e golfinhos “visitantes”, que ocorrem em uma área maior e mais esporadicamente são observados no mesmo local. As caraterísticas genéticas comuns predominantes entre os golfinhos “residentes” estão ligadas a população de fêmeas, com se entre os residentes predominassem as fêmeas matriarcais e entre os “visitantes” predominassem os machos, explica o oceanógrafo José Martins, pesquisador fundador do Projeto Golfinho Rotador.