O Oceano foi e é fundamental para o desenvolvimento da espécie humana na Terra, seja como fonte de alimento ou rota de comércio e exploração. Pesquisas recentes também afirmam que as pessoas que vivem próximos do litoral são mais felizes.
Atualmente, cerca de 60% das pessoas da Terra vivem a menos de 50 km do Oceano e 2/3 das cidades do mundo com população superior a 2,5 milhões de habitantes estão situadas nessa área. No Brasil, segundo o Censo de 2022, 18% dos brasileiros moram em municípios costeiros.
Apesar de pesquisas recentes indicarem que pessoas que vivem perto do mar são mais saudáveis, têm menores níveis de estresse, mais disposição e são mais felizes, a principal causa da ocupação costeira teve origem na busca de alimento, como moluscos, crustáceos, peixes, focas, golfinhos e baleias.
Os humanos retiram mais de 100 espécies de peixes e mariscos, totalizando mais de 90 milhões de toneladas de frutos do mar a cada ano. A economia da pesca movimenta milhões de pessoas, como pescadores, construtores navais e de arte de pescas e donos de restaurantes e comércios.
Uma das principais classificações da pesca é a entre subsistência e comercial. Quando os pescadores usam o produto de sua pesca para completar suas necessidades nutricionais, é pesca de subsistência. Na pesca comercial, os pescadores vendem suas capturas por dinheiro, bens ou serviços. As espécies mais comercializadas pelo setor pesqueiro no mundo são anchoveta, atuns e afins, bacalhau, sardinha, krill, camarão e lulas. Os países que mais pescam são China, Indonésia, Índia, Vietnã, Estados Unidos, Japão e Peru. O Brasil, com cerca de um milhão de toneladas de peixe por anos, sendo 50% pescado e 50% de cultivo, está bem atrás dos 30 milhões de toneladas da China por exemplo.
A pesca de atuns e afins no Oceano Atlântico é administrada pela Comissão Internacional de Conservação dos Atuns do Atlântico (ICCAT), uma organização intergovernamental. Atualmente, é permitido pescar até 73 mil toneladas de atuns e afins no Oceano Atlântico. O Brasil está autorizado a capturar 10.986 toneladas de albacora-branca, albacora-bandolim e espadarte.
A pesca de atum no Brasil praticamente é realizada por pescadores industriais, que exportam principalmente dos estados do Rio Grande do Norte e do Ceará. Para se pescar atuns e afins, as principais artes de pesca utilizadas são: espinhel de superfície (uma linha com quilômetros de comprimento, com anzóis espaçados ao longo dela), vara e isca viva e pesca de sombra (usa boias fundeadas para agregar os peixes).
A captura de baleias foi muito importante economicamente para a humanidade no passado, fornecendo carne e principalmente óleo para iluminação pública, nos séculos XIX e XX, antes da difusão do uso do petróleo. Essa atividade levou várias espécies de baleias à beira da extinção, como a baleia-azul (Balaenoptera musculus), as baleias-franca (Eubalaena australis e Eubalaena glacialis) e o cachalote (Physeter macrocephalus). Mas essa atividade deplorável ainda continua ativa como na Islândia, na Noruega e no Japão. E no Norte do Brasil, onde o boto-cinza (Sotalia guianensis) é capturado para ser vendido para e usado como isca aos barcos que pescam tubarões com espinheis, como registrado no Parque Nacional Orange, em 2007. Ou a pesca intencional do boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) para ser usado como isca na pesca do bagre piracatinga na Amazônia.
Foto 35. Baleia-azul nos Açores (Portugal)
Foto 36. Baleia-franca em Hermanus (África do Sul)
Foto 37. Boto-cor-de-rosa no Rio Negro, Novo Airão (AM)
No século XIX, a captura intensiva de algumas baleias próximo à costa obrigaram os pescadores a irem cada vez mais longe da terra e a utilizar cada vez mais tecnologia para capturar baleias. Essa história está bem descrita no livro e no filme No Coração do Mar, que narra a história da pesca de baleia-franca e depois de cachalote, a partir da cidade de Nantucket (USA). Esse livro está embasado no diário de bordo do capitão do navio baleeiro Essex, que inspirou o romance Moby Dick, obra em que o Capitão se desespera em busca de vingança contra um cachalote gigante.
Foto 38. Cachalote na área da primeira Reserva Natural de Cachalotes, criada em novembro de 2023 na Dominica
A partir dos anos 1960, começou a ocorrer o mesmo com várias pescarias de peixes no mundo, que entraram em declínio devido à mesma causa: sobrepesca. Sobrepesca é quando são pescados mais peixes do que o ecossistema pode reabastecer. Atualmente, mais de 80% dos recursos pesqueiros estão sobrepescados.
Outro problema da pesca industrial é a captura incidental ou acidental de outras espécies, como golfinhos, albatrozes, tartarugas-marinhas, tubarões e raias. Em Fernando de Noronha, tem-se registro de vários acidentes com fragata (Fregata magnificens). Para se ter uma ideia, na década de 1970, 500 mil golfinhos morriam por anos “acidentalmente” na pesca de rede do atum no Oceano Pacífico. Atualmente no Brasil, dezenas de botos-cinza (Sotalia guianensis) e de toninhas (Pontoporia blainvillei) são capturados acidentalmente.
Foto 39. A toninha, na Baía da Babitonga (SC). Foto: Toninhas do Brasil/UNIVILLE
Foto 40. Tartaruga-marinha-verde em Nusa Penida (Indonésia)
Foto 41. Fragata enrolada em linha de pesca em Fernando de Noronha
Por fim, mas não menos significativo, é o impacto das redes fantasma, que são pedaços resultantes do abandono e do descarte de redes de pesca. Esses pedaços de rede ficam anos derivando no Oceano pela ação das correntes, capturando todos os animais que encontram pela frente, de peixes a baleias. E, depois de anos, essas redes se decompõem, seu plástico se degrada e se transforma em microplásticos.
A extinção de grandes animais marinhos ocorre há muitos anos. Por exemplo, a vaca-marinha-do-stellar (Hydrodamalis gigas), parente do peixe-boi que media até 9 metros de comprimento, pesava até 10 toneladas e vivia em uma área que se estendia do Japão aos Estados Unidos foi extinta apenas 27 anos depois de ser nomeada oficialmente, em 1769. Mas, apesar de serem caçadas, a possível causa da extinção da vaca-marinha-do-stellar não foi direta, se deveu à eliminação da lontra-marinha pelos caçadores de pele, que se alimentava de ouriço, que se alimentava de algas, as quais eram a única fonte de alimento da vaca-marinha-do-stellar. Sem as lontras, os ouriços se multiplicaram impressionantemente e acabaram com as algas, de modo que as vacas-marinhas-do-stellar morreram de fome.
Uma saída para quem quer ser um consumidor consciente é a opção por comprar frutos do mar sustentáveis, que são os colhidos de fontes (selvagens ou cultivadas) que não esgotam o ecossistema natural. E uma boa fonte de informação sobre os impactos da pesca é o documentário Seaspiracy – Mar Vermelho.
Atualmente, o grande motivo para a ocupação do Oceano é a busca por energia. Do petróleo a energias renováveis, como o uso de ondas, correntes, marés e temperatura, para alimentar turbinas e gerar eletricidade.