Os Cetáceos



Chama-se Cetáceo o grupo de animais que reúne as baleias e os golfinhos que atualmente existem no mundo. 

Atualmente, a União Internacional para a Conservação da Natureza IUCN reconhece 89 espécies de cetáceos vivos no mundo, divididas em duas Infraordem: Misticetos e Odontocetos.

Os Misticetos, conhecidos como baleias-verdadeiras, não possuem dentes e sim barbatanas córneas na boca, utilizadas para filtrarem seu alimento, pequenos peixes ou zooplâncton, como o krill. 

As 14 espécies de Misticetos são reunidas em quatro famílias de baleias: Balaenidae (francas); Neobalaenidae (franca-pigmeia); Eschrichtiidae (cinzenta), Balaenopteridae (minke, sei, de-bryde, fin, de-omura, jubartes e azuis). 

No Brasil, o ICMBio reconhece a ocorrência de oito espécies de baleias-verdadeiras: franca (Eubalaena australis), azul (Balaenoptera musculus), fin (Balaenoptera borealis), sei (Balaenoptera borealis), de-bryde (Balaenoptera brydei), minke-comum (Balaenoptera acutorostrata), minke-antártica (Balaenoptera bonaerensis), de-omura (Baleonoptera omurai) e jubarte (Megaptera novaeangliae).

As baleias-verdadeiras mais conhecidas no mundo são a jubarte, a franca e a azul, sendo as duas primeiras as mais fáceis de serem observadas no Brasil, pois adotam a estratégia padrão de migração anual dos misticetos. Esta estratégia consiste em migração entre áreas de alimentação em latitudes mais altas e habitats de reprodução em latitudes mais baixas. 

A baleia-jubarte tem seu nome científico devido às suas grandes nadadeiras peitorais. Também é conhecida como baleia cantora, por causa do canto emitido pelos machos no período reprodutivo. Existe uma população de jubartes que nasce no Brasil, nas regiões sudeste e nordeste, mas que migram para a borda da Antártida, principalmente Ilhas Geórgia do Sul no verão do hemisfério sul. Em Fernando de Noronha, assim com em todo o Brasil, cada vez é mais comum observar jubartes entre agosto e outubro, principalmente na Bahia e nos estados litorâneos da Região Sudeste.



Foto 2.02. Baleia-jubarte em Fernando de Noronha

A baleia-franca se aproxima da costa dos Estados das regiões Sul e Sudeste entre julho e novembro, vindo da borda da Antártida. Esta foi uma das baleias mais caçadas, devido ao seu alto teor de gordura. A franca vem para o Brasil na mesma época que a jubarte, sendo que esta se desloca mais por fora da costa e chega ao Nordeste do Brasil. Assim como vem ocorrendo com outras espécies de baleias verdadeiras, cada vez é mais comum observar a franca entre agosto e outubro em menores latitudes, como África do Sul e Brasil, onde concentram-se nos Estados da Região Sul.



Foto 2.03. Baleia-franca em Hermanus (África do Sul)

Até bem pouco temo atrás, a baleia-azul era é maior vertebrado que já viveu na Terra, podendo atingir 30 metros e 180 toneladas. Mas, com a recente descoberta paleontológica no Peru do fóssil de uma baleia extinta, Perucetus colossos, com peso estimado entre 85 e 340 toneladas, a azul encontra-se em segundo lugar.

A baleia-azul foi muito caçada pelo seu tamanho, o que quase levou essa espécie à extinção. Estima-se que a população de azuis antes da caça era cerca de 239.000 indivíduos, que se encontravam principalmente na Antártida. Atualmente, estima-se que vivam ainda cerca de 2.000 indivíduos, encontrados principalmente na Antártida e a noroeste dos Oceanos Pacífico, Antártico e Índico, onde ela vão se alimentar, preferencialmente de um pequeno crustáceo conhecido como o krill, do qual podem ingerir até 3,6 toneladas por dia. 

As baleias-azuis não seguem a risca a estratégia padrão de migração anual dos misticetos, que migram se alimentação em latitudes mais altas e se reproduzem em latitudes mais baixas. As azuis têm padrões tem também estratégias alternativas, de acordo com a população. Tem populações de baleias-azuis que residência durante todo o ano em determinado local, como as cerca de 300 azuis chilenas do Golfo do Corcovado (Chiloé). Mas também tem baleias-azuis que saem da Patagônia Chilena e vão para o Arquipélago de Galápagos (Equador). Entre maio e junho, o Arquipélago dos Açores vira ponto de parada para as baleias-azuis que se deslocam para as altas latitudes do Hemisfério Norte, na primavera daquele hemisfério. 

Existem dois registros de destaque da baleia-azul espécie no Brasil. Um é o encalhe em 1992 na Praia do Chuí, Rio Grande do Sul, cuja ossada está no Museu Oceanográfico da Universidade Federal do Rio Grande. O segundo registro é o de uma avistagem em 2011 de um animal vivo por pesquisadores da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, no litoral norte do Rio Grande do Norte.



Foto 2.04. Baleias-azuis no Arquipélago dos Açores (Portugal)

Os Odontocetos
Os Odontocetos compõem um grupo de 92 espécies de Cetáceos com dentes, divididos em 10 famílias: Ziphiidae (baleias-bicudas), Physeteridae (cachalote), Kogiidae (cachalotes-anões), Platanistidae (golfinhos-de-rio-asiáticos), Pontoporiidae (toninha), Lipotidae (baiji), Iniidae (boto-cor-de-rosa), Delphinidae (golfinhos, orcas e baleias-piloto), Phocoenidae (marsopas) e Monodontidae (narval e beluga). 

No Brasil, já foram registradas 47 espécies de Odontocetos, entre os quais o cachalote e o narval, que não são considerados golfinhos, baleias dentadas. As famílias Monodontidae, Plantanistidae e Lipotidae não ocorrem no Brasil.

O Cachalote (Physeter macrocephalus) é o maior dos odontocetos, os macho, maiores que as fêmeas, atingem cerca de 18 metros e 57 toneladas. Pode ser encontrado em quase todo o mundo, menos nos polos, preferencialmente em profundidades maiores que 1.000 metros. É o segundo maior mergulhador entre os mamíferos, perdendo para a baleia-bicuda-de-cuvier, pode ir a mais de 1.500 metros de profundidade e permanecer mais de 90 minutos de submersão. É uma espécie migradora, principalmente os machos, que se reúnem próximo ao Equador no período reprodutivo e depois migram para grandes latitudes, deixando os recursos alimentares do Equador exclusivamente para as fêmeas e os filhotes. Alimentam-se principalmente de lulas gigantes, que podem atingir 18 m de comprimento, mas também de polvos, tubarões e peixes. Quanto ao risco de extinção, é classificado pelo Governo Brasileiro como Vulnerável.



Foto 2.05. Cachalote na Dominica.

Narval (Monodon monoceros) é um Odontocetos que vive no Círculo Polar Ártico. No verão, eles migram para as águas costeiras e fiordes da Groenlândia e da Ilha de Baffin (Canadá), deslocando-se novamente para o mar no inverno para evitar serem presos pelo gelo. São conhecidos como unicórnio-do-mar é uma baleia dentada, pois os machos tem um dente adaptado de forma que parece um chifre, que pode atingir até 3 metros de comprimento.

Acredita-se que sua presa tem a ajude captura de alimento e/ou seja um ornamento para imposição de liderança dos machos. Eles têm caudas de formato estranho que parecem ter sido colocadas ao contrário. Os narvais vivem em grupos de 10 a 20 indivíduos, mas no verão reúnem-se em grupos de centenas ou mesmo milhares para migrar. Eles são grandes mergulhadores, com tempo de submersão de 25 minutos e atingem profundidade de 1.500 metros.

Os narvais se alimentam de peixes, como linguado e bacalhau, camarões, lulas e caranguejos. Seus predadores naturais são ursos polares, orcas e tubarões e o homem. Os narvais são caçados pelos Inuit, o povo nativo do Polo Norte, por sua pele, gordura e presas há séculos. Por estarem tão adaptadas à vida no gelo polar, são provavelmente as espécies de baleias mais afetadas pelas alterações climáticas.​



Foto 2.06. Narval na Ilha de Baffin (Canadá).


Foto 2.07. Modelo artificial de um Narval (Canadá).